A tíbia, excetuando o fêmur, é o maior osso do corpo humano que suporta peso. Está localizada no lado ânteromedial da perna. A sua extremidade proximal é grande porque seus côndilos medial e lateral articulam-se com os volumosos côndilos do fêmur. Sua face superior é plana, formando o chamado platô tibial, que consiste em côndilos medial e lateral e em uma eminência intercondilar. A palavra tíbia, originada do latim, veio de flauta, pois sua forma lembra uma flauta antiga. É também indicada como o osso grande da canela ou apenas osso da canela. Em algumas doenças a tíbia sofre deformidades e curvaturas anormais, principalmente sob a forma de arqueamento e convexidade anterior. Tais deformidades configuram quadros anatomopatológicos e radiológicos extremamente úteis ao reconhecimento da doença. – Na sífilis congênita, entre outras alterações, ocorre osteocondrite e periostite afetando vários ossos, embora as lesões no nariz e pernas sejam mais características. Na chamada sífilis congênita tardia, a periostite na tíbia provoca neoformação excessiva de tecido ósseo na sua superfície anterior (hiperostose) e en-pela deposição maciça de osso de origem perióstica, coexistindo alargamento e achatamento das regiões corticais laterais. Estas alterações produtivas e reacionais em resposta à infecção pelo espiroqueta (Treponema pallidum), resultam em arqueamento/abaulamento e curvatura anterior distintos da peça óssea, lembrando a lâmina de um sabre. Este quadro anatômico/radiológico recebeu a denominação de tíbia em sabre ou em bumerangue. O sabre é arma branca de lâmina reta ou curva e afiada de um só lado e o bumerangue é arma de arremesso, cuja forma mais comum é de uma peça arqueada feita de madeira. – A bouba, espiroquetose causada pelo Treponema pertenue é, atualmente, muito rara. Porém, a tíbia é o osso mais atingido, ocorrendo também periostite que causa o aspecto de sabre ou pernas em bumerangue. ─ No raquitismo, distúrbio metabólico por deficiência de vitamina D e de cálcio e sem mineralização adequada dos ossos, o estudo radiológico revela que as alterações raquíticas são mais óbvias em regiões de maior atividade de crescimento, tais como junções costocondrais nas costelas, porção distal do fêmur e proximal do úmero e extremidades distais das tíbias. As deformidades características de arqueamento dos braços e das pernas relacionam-se aos distúrbios de mineralização óssea, bem como à posição assumida pela criança. A criança com raquitismo grave frequentemente fica sentada durante meses, com as pernas cruzadas, inclinando-se ligeiramente para frente e suportando o corpo com as mãos estendidas. A tíbia sofre também arqueamento em sabre. – A doença óssea de Paget ou osteíte deformante foi descrita e estudada pelo médico inglês Sir James Paget (1876). É um distúrbio comum, ocorrendo em 3 a 4% de indivíduos de meia idade e atingindo 10% na 9ª década. Entretanto, apresenta maior prevalência na Inglaterra, Europa Ocidental, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia. Henry L. Jaffe (Diseases of bones and joints, Lea & Febiger, 1972) refere-se à tíbia em lâmina de sabre na doença de Paget (Fig. 1).
*ANALOGIA: PONTOS DE SEMELHANÇA ENTRE COISAS DIFERENTES; SIMILITUDE, PARECENÇA
Prof. Dr. José de Souza Andrade Filho**
Analogias em Medicina
**Patologista no Hospital Felício Rocho
**Membro da Academia Mineira de Medicina
**Professor de Patologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
Comments