Na verdade, quando ele aparecia no posto de saúde da prefeitura em busca de qualquer solução de qualquer problema dele, por menor que fosse, os funcionários sabiam, de antemão, que aquele seria um dia agitado e estressante. Tião Bahiano – esse era seu apelido – de tudo reclamava e exigia que tudo fosse resolvido para ontem, a tempo e a hora, não importando os outros usuários, a disponibilidade de funcionários e outras marcações. Apresentava-se quase sempre barbudo, usando umas roupas enjambradas, com aspecto de quem não tomava um bom banho havia muito. Era de poucas letras, mal-educado, mas ciente de seus direitos de cidadão, segundo ele. Talvez fosse influenciado por um partido de esquerda, já que era militante e usava uma estrelinha vermelha no peito. Desejava, naquele dia, um relatório médico, pois dizia estar com L.E.R., apesar de não ser muito amigo do trabalho, para mostrar à perícia médica do INSS, pois desejava “encostar”. Nada estava marcado em seu nome, e os funcionários o orientaram a seguir a rotina de serviço. Mas foi em vão: chamou a polícia, alegando que estava sendo agre-dido verbalmente pelos funcionários. A gerente do posto e a polícia, depois de muito dialogarem, chegaram à conclusão de que a melhor solução seria providenciarem logo o relatório médico para evitarem algum mal maior e dele ficarem livres. E assim foi feito. Quando ele estava indo embora, ainda falou em alto e bom som para todos ouvirem, até mesmo a polícia, com um sorriso sarcástico no canto da boca: – EU SOU É HOMEM, COM “O” MAIÚSCULO...
*Do livro SÓ MESMO EM BETIM... II E OUTRAS AVENÇAS. No prelo.
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