Eduardo Amaral Gomes*
Severino, moreno, alto, um halterofilista, voz rouca e profunda, era baiano, vindo de Caitité, no sul da Bahia, para trabalhar nas obras da Refinaria Gabriel Passos, em fase de implantação no município.
Na época, a Cidade era calma e pacata. Os trabalhadores, bem cedinho, saíam do Bar dos Amará, onde um caminhão os apanhava para o trabalho, como era costume então. Eram transportados na carroceria, onde se sentavam em vários bancos de madeira lado a lado.
Como saíam quase de madrugada, a empreiteira fornecia um lanche muito simples para os trabalhadores, do qual eles gastavam muito. Consistia, basicamente, de café, leite e um pãozinho, de sal ou doce, com manteiga.
O balconista do bar pegava os pãezinhos, abria-os ao meio, um a um, passava uma generosa camada de manteiga e os entregava aos peões.
Contudo, naquela manhã, muito atarefado, esquecera-se de passar a manteiga em um pão e, coincidentemente, esse foi dado a Severino.
Vendo que o pão não tinha manteiga, Severino, meio nervoso, talvez lembrando-se de suas origens, mas com um sorriso no canto da boca, disse ao balconista, com sua voz rouca:
— OCÊ TAIÔ MAIS NUM BREIÔ...
**Do livro “Só Mesmo em Betim ...” – 2ª edição -
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