Não se sabe ao certo se tal fato deu-se na Cidade, pois de tão antigo perderam-se os registros nas brumas do tempo, mas é voz corrente que foi presenciado, vivido ou ouvido por um cidadão autóctone. Dizia ele que o velório estava apinhado. Naquela época, era costume velar o corpo na própria residência, com carpideiras, e lá estava praticamente toda a população do lugarejo. Velava-se o Toninho da Glorinha, comerciante muito bem sucedido e, além disso, líder político e esportivo, pois adorava um futebol. Em outras palavras, era um indivíduo muitíssimo bem relacionado, comunicativo, gentil e querido por todos. Havia falecido muito jovem, em plena flor da idade, aos 35 anos, de mal súbito, sem nenhuma doença aparente. O desenlace deu-se de forma extremamente rápida, de madrugada. Começou a passar mal e morreu, literalmente, nos braços da esposa, não dando tempo para qualquer tipo de socorro. Esta, inconsolável, dizia para todos, no velório: — Coitado do To-ninho. Morreu igual a um passarrinho!! E notícia corria de boca em boca, todos comentando: — Coitado do To-ninho. Morreu igual a um passarrinho!! De ouvido atento a tudo o que ocorria, estava o Nô do Lau, de terno e gravata preta, todo circunspecto. Era um tipo popular na Cidade e freqüentava todos os velórios, sem exceção. Diziam que ele era meio doido, um pouco desparafusado.Mas todos gostavam dele, pois portava-se condignamente, compondo com seu indefectível terno preto o ambiente de consternação. Quase no fim do velório eis que chega, apressado, um velho amigo do Toninho, tomado também de surpresa pelo infausto acontecimento. E vendo o Nô do Lau, todo comportado, sério, perguntou, curioso: — O Toninho morreu de quê? E o Nô do Lau respondeu, meio constrangido, meio de lado: — Sei não, mas acho que foi de pedrada...
Dr. Eduardo Amaral Gomes
Escritor e médico
Causos de Betim
Histórias verídicas
*Do futuro livro “Só mesmo em Betim III... e outras acontecências”.
**Escritor bissexto
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