Ele era da Cidade. Useiro e vezeiro, já aprontara várias. Estava de férias na praia. Denotava ser, pelo pedido e pelo porte esguio, um rapaz de posses. De regular estatura, magro, com cabelo curtíssimo, exalava álcool por todos os poros, mas, paradoxalmente, estava lépido e fagueiro. Queimado de sol, com a pele brilhante, estava trajado somente com uma pequena toalha vermelha de praia, amarrada na cintura. A pizzaria, à beira-mar, era enorme, mas aconchegante, e estava lotada, no lusco-fusco da tardinha. No fundo, um palco, grande, onde um conjunto musical amador assinava (ou assassinava) uma música sertaneja. Entrou na pizzaria resoluto e foi direto ao maître: — Um uísque, 12 anos, de graça, sem gelo; acompanhado de água mineral, sem gás. E emendou: — Se não eu tiro a toalha. Vou fazer um escândalo!! O maître ficou ator-doado. Sem dar tempo para responder qualquer coisa, o rapaz completou: — Você decide... O maître restabeleceu-se: — Lugar de malandro é na delegacia. Cai fora, senão chamo a polícia! O rapaz, rapidamente, introduziu-se por entre as mesas. O maître deu um sinal para o garçom mais próximo agarrá-lo e tirá-lo da pizzaria. Mas ele não conseguiu — o rapaz deslizava igual quiabo no angu: tinha passado abundante quantidade de creme de cacau pelo corpo, daí sua pele brilhante. Juntaram-se mais garçons e não conseguiram segurá-lo. O maître, apertado, então chamou a Polícia. Esta veio com a sirene ligada, cerca de cinco minutos depois. Desceram três parrudos policiais. Foi-lhes explicada a situação e disseram: — Deixa conosco. Tá no papo. Nessa altura, a pizzaria virou um pandemônio. A notícia logo se espalhou entre os fregueses, tal qual um rastilho de pólvora. Donzelas gritavam. As mais idosas iam para o banheiro. Os rapazes gritavam: — Tira... Tira... Tira... Alguém ofereceu um litro de uísque 12 anos para tirar a toalha já. Os mais velhos comentavam: — Que zorra! Em dado momento, os policiais e os garçons encantoaram o rapaz perto do palco. Este, desvencilhando-se deles e sem opção, subiu no palco, mas avisou: — Se vocês subirem, tiro a toalha... Nesta altura do cam-peonato, era questão de honra para a Polícia agarrá-lo. O sargento, decidido, começou a su-bir no palco. O rapaz não se fez de rogado: na presença de todo mundo, frontalmente, tirou a toalha vermelha. O grito de surpresa foi geral: — Aaaaaahhhhhhhh!!!!! A Polícia retirou-se da pizzaria. Os garçons voltaram às suas funções. As donzelas retomaram os seus lugares. O conjunto musical começou a assinar (ou assassinar) nova música sertaneja. Tudo ficou como d´antes na pizzaria d´abrantes. Realmente, o rapaz da Cidade tirara a toalha, conforme o prometido — e eis que surgiu, debaixo da toalha vermelha, um com-portadíssimo e reluzente... calção vermelho.
**DO LIVRO “SÓ MESMO EM BETIM... 2ª EDIÇÃO – *MÉDICO ORTOPEDISTA E TRAUMATOLOGISTA
Dr. Eduardo Amaral Gomes
Escritor e médico
Causos de Betim
Histórias verídicas
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