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A saúde no pós catástofre

O rompimento da barragem de Brumadinho ofereceu riscos à saúde de quem tem contato com a lama e todas as pessoas que vivem próximo ao rio Paraopeba. Entre os perigos estão infecções, como leishmaniose e dengue. Além disso, o ambiente de destroços na região aumenta o risco de acidentes com animais peçonhentos, como escorpiões, aranhas e cobras. Mas, a saúde mental também foi prejudicada. Nove meses após a tragédia, o secretário de Saúde da cidade, Júnio de Araújo Alves, fala sobre os problemas enfrentados em Brumadinho.


SUA SAÚDE: Nove meses após a tragédia, como você avalia a saúde pública de Brumadinho hoje? JÚNIO: O Sistema de Saúde pública de Brumadinho foi totalmente alterado após o rompimento da barragem. Podemos afirmar que essa tragédia causou um desequilíbrio em todas as nossas rotinas. A saúde mental da maioria da população está afetada. Nossos atendimentos na atenção primária, comparando o primeiro quadrimestre de 2018 com o primeiro quadrimestre de 2019, saltaram de aproximadamente 34 mil atendimentos para 53 mil atendimentos aproximada-mente. Nos plantões de urgência houve um aumento de 160 para 280 atendimentos por dia aproximadamente e a distribuição de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos, em alguns itens, o aumento da dispensação chega a ser 150% maior.

SUA SAÚDE: Neste período de tempo, o que foi feito nesta área? JÚNIO: Hoje, nossa equipe de Saúde Mental triplicou, em todas as áreas houve um aumento de RH para conter tal desiquilíbrio. Passamos de 790 para 1100 servidores na área da saúde. Remodelamos o NUPIC – Núcleo de Práticas Integrativas e Complementares para atender toda a cidade. Incrementamos mais 3 (três) equipes de saúde da família – 1 em Córrego do Feijão; 1 em Parque da Cachoeira e 1 em Casa Branca. Remodelamos a unidade de ponto de apoio da Comunidade de Pires. Credenciamos três equipes de matriciamento de saúde mental junto ao Ministério da Saúde. Ampliamos o CAPS Adulto e o CAPS Infantil. Ampliamos todo o atendimento assistencial nas nossas 42 unidades.

SUA SAÚDE: Qual a situação da água do Paraopeba e quais as recomendações para a população ribeirinha? JÚNIO: A água do rio Paraopeba está contaminada por metais e por rejeitos oriundos de corpos de seres humanos e animais, bem como todo dejetos oriundos de residências, currais e outros, portanto, está imprópria para qualquer tipo de contato com o ser humano, devendo a população manter distância do rio e não consumir peixes ou qualquer produto advindo do mesmo.

SUA SAÚDE: A Vale está ajudando na saúde da população de Brumadinho? JÚNIO: Através de um termo firmado entre a Prefeitura, Ministério Público e a Vale a mesma está repondo as diferenças de recursos humanos e encargos advindos desta tragédia.

SUA SAÚDE: Conte para o Leitor Sua Saúde como estava a saúde antes do rompimento da Barragem. JÚNIO: Brumadinho tinha bons indicadores na área de saúde, um ótimo desempenho no controle da hipertensão, do diabetes, cobertura vacinal acima de 90% e consultas de pré-natal satisfatórias.

SUA SAÚDE: E a saúde mental destes cidadãos, como está? É verdade que aumentou o número de tentativas de suicídio? JÚNIO: Esse é o fator mais agravante pós tragédia. O número de atendimentos, na saúde mental, cresceu exponencialmente e a sensibilidade a respeito da dor e do adoecimento estão afloradas na maioria da população o que desencadeia adoecimentos em outras áreas clínicas. Após o rompimento já foram notificadas 39 tentativas de suicídio.

SUA SAÚDE: Qual o maior desafio hoje desta gestão em relação à saúde? JÚNIO: Oferecer ações consistentes e sinérgicas para tratar e obter êxito nas questões de saúde mental.

SUA SAÚDE: Qual o seu maior aprendizado com esta tragédia? JÚNIO: Aprendi que nós temos uma força dentro de nós que nós mesmos desconhecemos e que quando nos vemos diante de uma situação como essa, nós aprendemos mais a abraçar o ser humano, a lutar pela cura, pelo acesso ao tratamento, pelo acolhimento, que nós aprendemos a nos doar mais em prol da organização coletiva e pude ver de perto o amor do ser humano através dos voluntários, através dos profissionais da saúde, através das pessoas que se doaram em prol do próximo. Aprendi a buscar mais a Deus, pois na maioria das coisas, somente Deus pode nos dar uma resposta. Aprendi que nós devemos deixar esse relato bem registrado para toda a humanidade para que algo terrível dessa magnitude não volte a assolar a humanidade outra vez.

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